sábado, 22 de junho de 2013

Reinvenção

Poucas coisas mudam a cabeça de alguém como ter um filho. É incrível como olhamos para trás, para o que éramos antes de engravidar, e vemos que muito do que achávamos absolutamente importante hoje não passa de coisa que acabou.

Eu, por exemplo, aos dezenove anos achava que o essencial da vida era experimentar, que eu não morreria realizada se eu não fizesse tudo o que eu pudesse fazer, por mais nocivo que fosse. Achava que ser jovem era simplesmente encher a cara sempre que possível, viajar no maior número de drogas possível, transar só pelo fogo de fazê-lo, e que abrir mão da minha liberdade ilimitada seria perder minha juventude. Eu me sentia com inveja quando via amigos meus indo a uma festa e eu não, porque achava que o que importava era competir quanto a quantos beijamos numa balada ou voltar para casa mais bêbada que a minha companhia. Eu invejava amigos meus que não tinham que se limitar, que saíam de casa quando queriam e voltavam do jeito que lhes agradasse, com quem quisessem. Achava que isso era viver.

Daí, quando engravidei, temi perder essa essência. Temi ficar para trás enquanto meus amigos continuavam nas festas e somando conquistas. Até minha 30ª semana de gravidez, continuei frequentando festas, até pela insônia que eu nunca superei. Não bebia, ficava sempre com uma garrafa de água por perto, ria de amigos meus que iam ao chão bêbados [ou imitavam galinhas na pira do ácido], e fui percebendo que estava, irrevogavelmente, tomando um rumo diferente na vida em relação a eles. E, conforme fui aceitando isso melhor, percebi que isso não era ruim. Que dar um tempo na loucura e respirar fundo é necessário para todo mundo. E que, para mim, foi o melhor que eu podia fazer depois de ter me desgastado tanto com uma ideia falsa de liberdade.

Desde que o Be nasceu, não voltei a nenhum tipo de rolê noturno. O meu máximo foi ir ao bar do trote da minha antiga faculdade no começo do ano, mas fui embora cedo por estar com o Be. Fiquei num canto afastado da galera, com um grupo pequeno de amigos, e aquilo me bastou. Não preciso estar na piração como os outros para me divertir também, e isso ainda me impressiona. Fora isso, fui a um churrasco com amigos, na casa de uma amiga nossa, e só. E não sinto falta.

Não sinto que perdi minha juventude por isso. Ficar em casa com o Bernardo ao invés de sair pra beber numa sexta à noite não me tornou uma velha rabugenta. Ainda ouço as mesmas músicas, me interesso pelas mesma séries, tenho ainda interesses comuns a meninas da minha idade. Tenho outras amigas que estão grávidas ou com filhos pequenos, todas da minha idade, e não as acho envelhecidas por isso. É claro que nos limita um pouco e é difícil que sejamos exatamente como outras jovens de vinte, vinte e um anos, mas não nos tira a nossa juventude. Apenas nos reinventamos numa jornada diferente.

Hoje sou muito mais cautelosa do que era antes de ficar grávida. Não tinha medo de andar à noite na rua, não tinha medo de tomar remédio sem orientação, não calculava riscos para o que eu fazia. Hoje, tudo é bem pensado. Não atravesso a rua sem checar se há um carro vindo. Não tomo remédio a não ser que seja realmente necessário. Não deixo para voltar para casa de madrugada se posso voltar sob o céu do fim de tarde.

E continuo vivendo como jovem que sou. Jovem mãe reinventada.

2 comentários:

  1. Adorei o texto!!
    Ótimo fim de semana querida.

    principecaioandre.blogspot.com.br/

    /thatylayouts.blogspot.com.br/

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  2. Gosto as coisas que você escreve, sempre vi você conversando com o pessoal lá da BBC e argumentando com as coisas que achava errado e concordava com vc na maioria das vezes, aí decidi seguir teu blog, é engraçado como as coisas mudam né? Também passei por coisas assim e hoje vejo que não precisava de nada daquilo, no final das contas eu sempre acabava deprimida no meu quarto com dor de cabeça hahaha, esses pequenos preenchem nossa vida mais que qualquer coisa.

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