segunda-feira, 1 de abril de 2013

Mãe solteira, mas não sozinha



Eu nunca pensei, na minha vida, que seria mãe solteira. Como falei no post da mãe moderna, eu tinha meus planos de formar uma família: acharia alguém legal, casaria com uns vinte e três, vinte e quatro anos, e em mais dois viria o primeiro filho. Sempre quis uns três ou quatro. Eu sabia que poderia ser mãe antes ou depois dessa idade, mas sempre me via com um namorado, um marido...

Quando engravidei, esperei que pudesse ter uma companhia nessa empreitada. Como fiquei grávida de alguém que mal conhecia, eu sabia que não seria simples assim, mas eu tinha uma esperança de que, fosse apenas por isso ou não, eu fosse poder conhecer melhor o dito cujo, quem sabe rolasse uma coisa mais séria, pudéssemos formar algo próximo a uma família comum. Contudo, logo ficou claro que o interesse era apenas meu, que ele continuava ocupado demais querendo o mundo todo, esperando a próxima festa, ansioso pelo próximo que comeria [é, próximO]. Minha esperança morreu logo nas primeiras semanas de gravidez. Para mim, ficou óbvio que eu estava nessa sozinha.

Eu sabia que nunca seria como eu imaginara antes. Tinha um coração partido, minha fé nos contos de fada destruída, mas queria acreditar que iria ficar tudo bem.

Quis então, quando comecei a ver todos os meus sonhos para com o bebê se esvaindo, que pelo menos pudesse ser tudo tranquilo. Quis ter uma gravidez tranquila, quis ter aquele carinho especial que só recebemos quando grávidas. E tive, tive mesmo. Menos de quem estava ali, supostamente comigo na situação toda. Meus amigos me cercavam o tempo todo, sempre tinha alguém que me ajudasse em qualquer coisa que eu precisasse, mas não tive o pai do meu filho por mim em momento algum. Insisti para que ele me acompanhasse a exames e consultas com a G.O. quando ainda me consultava no Hospital Universitário, e ele chegou a ir a uma US, e achei que isso o animaria com a gravidez e tudo o mais.

De trouxa que sou, acreditei que eu pudesse ter pelo menos um apoio emocional dele durante a gravidez, Contudo, lá pelas vinte e cinco semanas, tudo começou a ser um inferno. Ele começou a ser grosseiro do nada, jogou na minha cara muita coisa que me doeu muito, começou a me tratar como inimiga. Chegou a me humilhar em público, gritando comigo quando eu tentava a ajudá-lo -tantas dessas vezes por ele estar bêbado que nem um cachorro numa noite de semana, sem ter como voltar para casa, e pedindo que ele parasse de se drogar e tendo que ouvir que eu não tinha nada a ver com a vida dele, que eu era uma intrometida e por aí vai, Ouvi que exames eram apenas imagens e que ele tava pouco se f*dendo pra eles, que se algo acontecesse ao Bernardo antes de ele nascer, seria apenas algo que não deu certo. Minha depressão, que eu controlava bem há quase um ano, começou a se agravar novamente, e eu voltei a ter crises de choro terríveis quase diariamente. Eu admito que pensei muitas vezes em suicídio, como eu não pensava há anos. Sabia que isso era terrível, mas eu tinha tanto medo de meu filho não ter pai, de eu ter que explicar para ele, quando ele já fosse maior, por que o pai dele nunca ligava... sim, eu estava pensando no futuro, mas é isso que nós, mães, deveríamos fazer. Temos uma outra vida agora que não podem depender de sorte para não pisar uma tábua podre. Temos que ter planos B para os próximos tempos, temos que nos arrebentar, se for o caso, para que eles nos tenham como ponte sobre os buracos.

Eu não escondo que eu tive um grande sentimento pelo pai do Bernardo. E não escondo que ele pisou em mim até que cada pedacinho do meu amor se tornasse areia. Em um ano, ele me feriu de uma forma que nunca julguei possível de suportar, mas eu superei, ó que amor!

Ser mãe solteira significa ter responsabilidade total pelo Bernardo. No começo, de vez em quando, eu ainda convencia alguém a dar um banho dele porque minhas costas doíam [e nossa, como doíam], a dar um colinho enquanto eu mesma tomava um [e ainda não me sentia confiante o suficiente pra tomar banho com ele no chuveiro] e por aí vai... mas nunca tive alguém que ficasse com ele uma noite para que eu pudesse dormir bem. Nunca tive alguém que ficasse com ele um dia todo para que eu ficasse livre para cochilar, comer, tomar banho, dar uma volta, só responsável pelo tetê dele. E, antes que falem que é porque eu não quero, é porque é questão de princípios: o filho é meu, a responsabilidade é minha. Uma coisa é alguém se oferecer para isso, outra é eu pedir para alguém assumir tarefas com as quais eu me comprometi de forma tão grandiosa.

Quem deveria estar dividindo essas tarefas não está nem aí. É fácil querer levar o Bernardo para apresentar pros amigos, pra peguete ou pra quem for. Quero ver é contar que fala que eu que sou grosseira, que eu que fiz m*rda nessa relação toda e que é por não poder tirar o Bernardo de mim que não passa mais tempo com o filho. Quero ver contar que aprontou cinco dias antes do filho nascer e por isso nem pôde assistir ao menino vindo ao mundo. Quero ver contar que nem se dá o trabalho de ligar pra ver se precisamos de alguma coisa.

Eu tive que abrir mão da minha faculdade [que nem é muita coisa, já que estava querendo sair antes], sair da minha cidade para vir para um lugar que eu odeio profundamente, deixar meus amigos para trás e viver isolada do mundo. Tive que adiar muitas coisas que eu queria estar fazendo neste momento, no auge dos meus vinte anos, por ter escolhido ter meu filho. Tive que rever meus conceitos quanto a muita coisa, e replanejar meus próximos anos. E o outro lá achando que é muito trabalho abrir mão de gastar todo o dinheiro e o tempo dele de fim de semana para vir ficar com o filho.

Eu chego a achar meio absurdo quando falo com amigos sobre ir vê-los em São Paulo e eles ainda me perguntam se o Bernardo vai junto. Desde que ele nasceu, o maior tempo seguido que passei longe dele foram as seis horas que levei para ir registrá-lo em outra cidade, três dias antes de ele fazer um mês de vida. Fora isso, só fico longe dele se preciso ir à farmácia/mercado/qualquer lugar e tem algo que me impede de sair com ele, como chuva. E ainda saio com o coração meio apertado. A única vez que fiquei fora por mais de uma hora, nos últimos tempos, foi quando passei mal e precisei ir ao hospital, que deixei o Be com a minha vizinha e foi péssimo, porque foi justamente no dia em que ele tomou vacina e ficou chatinho.

Ainda mais absurdo é o pai do Bernardo, que acha que tem muitos direitos a cobrar sobre o menino. Ele não trabalha porque NÃO QUER [e nada me faz pensar o contrário -ele não é nenhum incapaz para estar há quase um ano e meio ciente de que seria pai e não ter arranjado um trampo até agora], não liga pra saber se precisamos de alguma coisa [por exemplo, veio hoje todo de mimimi e nem perguntou se o filho tava vivo], veio UMA vez desde outubro ver o menino e acho que, se eu não o tivesse encontrado em São Paulo desde então, teria sido essa a única vez em que veria o filho nos últimos meses. Ele é cheio de querer apresentar o filho pros amigos, pra sei lá mais quem, sempre quer vê-lo quando vou pra lá, mas quem disse que ele tá fazendo alguma coisa? Eu acabo me sentindo uma idiota, porque eu tenho o trabalho de cuidar do Be, dar tudo de que ele precisa, sou eu quem fico dormindo picado a noite toda para cuidar dele, e o pai, que não faz nada, quer cobrar direitos. Mereço, né?

Apesar de tudo, cada vez me convenço mais de que ser mãe solteira é uma delícia. Ainda que eu não tenha ajuda, também não tenho que dar satisfação a ninguém sobre como crio meu filho. Cabe a mim, e unicamente a mim, as decisões do dia-a-dia -como dar banho, que rotina estabelecer, como entreter. Estou criando um filho meu, e não 'nosso'. Um pouco que eu sinto que ele não tem pai, porque o que ele tem é completamente alheio às responsabilidades, não participa da parte burocrática de se ter um filho. E ser mãe solteira não significa ser mãe sozinha. Tenho gente presente em cada passo que dou nessa jornada que é a maternidade. Tenho amigos que sabem cada coisinha do Be, que acompanharam cada primeira vez do Bernardo, fosse o sorriso, o dente, a papinha. Tenho as meninas lindas do BabyCenter, com quem divido experiências e 'causos' que, mesmo não sendo presenças físicas, são gente em que penso todo dia, a quem acabei ficando apegada. É difícil às vezes, porque temos um limite e muitas vezes chegamos nele e não temos um apoio, mas é ainda mais forte a satisfação de não ter que dividir nossos pequenos com ninguém.

O Bernardo vai ficar comigo até começar a falar. Antes disso, nem que aquele idiota me pague vai ficar com o Be, porque eu não confio e ele vai ter que  arcar com algum tipo de responsabilidade antes. Enquanto meu filho não puder me puder dizer o que acontece, o que sente, ele não vai sair da minha vista, nem para ir a uma escolinha, em que não quero ter que colocá-lo antes dos dois ou três anos. Pretendo trabalhar em casa logo para poder ficar com ele e ter uma renda minha além da pensão dele, e que assim continue por um bom tempo. Ele é minha prioridade agora e, ao contrário de muita gente que acha que filho só acaba com a vida, espero a maior recompensa de todas: ver chegar a hora dos sonhos que eu adiei e ter alguém ao meu lado incondicionalmente, uma companhia até o fim da vida.


3 comentários:

  1. Lau, nossa histórias são diferentes, no meu caso eu que fui escrota com o pai do meu filho. Você é uma guerreira por criá-lo sem o pai e todos os guerreiros serão vitoriosos. Assim como todas as pessoas que te acompanham, seu filho certamente terá muito orgulho de você, que é uma grande mulher e uma grande mãe. Há quem julgue a mãe moderna, a mãe solteira, mas conhecendo a sua história, sabendo do quanto você abdicou da sua vida, da sua juventude para ser MÃE de verdade, só me cabe admiração. Parabéns e sucesso em todas as áreas da sua vida! Beijos

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  2. parabens lau, teu blog tah cada dia mais liiindo....me emocionei com esse post.... Pq tem mta menina da nossa idade, q em vez de ter um filho, tem um irmaozinho q pega p brincar qnd quer....tnho um caso bem proximo, um afilhado q eh criado pela avo, desde os quatro meses, pq a mae nao tomava conta direito, nem na mesma casa q a mae ele mora, infelismente, nos maes modernas, eu ja fui mae solteira, ja passei mais d um ano separada, e m deu um no na garganta, cada palavra desse post...mas c deus qzr o be vai ser um grande homem criado por uma grande mullher.... By bruninha maia

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  3. Nossa Lau, eu bem sei o que vc tá passando, com uma pequena diferença... Eu e meu ex brigávamos demais na gravidez do meu Bernardo, brigávamos de tapa...
    Eu sempre ali, dando outra chance, ainda querendo que aquilo desse certo, esperando um milagre sei lá, pra realizar o sonho de ter uma família ou algo parecido pros meus filhos, já que o pai da minha filha não pensou duas vezes e me traiu, o que me obrigou a dar-lhe um baita pé na bunda...
    O que me dava ilusões, foi que ele QUIS ter esse filho, ele me torrou a paciência pra engravidar... E apesar das brigas, tava sempre me acompanhando em todas as consultas e exames... Quis participar de tudo, até da escolha do nome... (Claro que, no fim, foi o nome que eu quis hehe)
    Quando meu filho nasceu, nossa ele "mudou", era um super pai, do tipo que dava banho e trocava fralda de cocô... Levava o menino pro parque, brincava, fazia dormir... Nossa, um exemplo de pai...
    Dali uns 2 anos, qdo o brinquedinho novo começou a perder a graça, ele começou a sair com amigos, encher a cara, e começou a deixar faltar tudo pro menino, não dava mais atenção, voltou a me agredir, bateu no menino tb... Demorou, mas consegui me livrar...
    Agora, ele não paga pensão, não ajuda com nada, aparece uma vez ou outra... Meu atual marido e minha família são quem suprem as necessidades do menino, e ele quer vir exigindo direitos! Quer levar meu filho embora... Agora tá enchendo pq quer que meu filho more com a minha mãe!!!
    Bem, estamos qse na mesma... Boa sorte pra nós com esses pais "maravilhosos" que arrumamos pros nossos Bernardos, e boa sorte pra eles tb, que não merecem esse descaso todo... =(

    Su Orzzi

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