sábado, 27 de abril de 2013

Pediatra, amamentação e o peitinho da Angelina Jolie

Oito meses de Bernardo, ainda mamando e indo ao pediatra ♥


A ida ao pediatra, até o primeiro ano do bebê, é quase a menstruação dele: uma vez por mês. Tem até mãe que vivencia a tensão antes da consulta, quando começa a acumular dúvidas, seja sobre a alimentação do bebê, uma manchinha vermelha na cabecinha, uma fimose no menino, orelha inchadinha do brinco da menina...

Tava lendo agora uma postagem num blog e fiquei bem incomodada. Aqui a mulher afirma veementemente que pediatra não tem orientação nenhuma para aconselhar as mães, que fala coisas baseadas em senso comum e só! Peraí. O cara estuda milhares de anos, se especializa naquela área, e a mulher quer dizer que ele se baseia em ditos populares para fazer suas afirmações? E quem, na opinião dela, tem algum tipo de preparo para orientar?

Mães, principalmente as de primeira viagem, não têm total entendimento quanto ao que acontece com seu filho. Muitas vezes, a mãe não consegue diferenciar uma alergia alimentar e dente nascendo [eu mesma fiz isso, quando os dentinhos do Be estavam para nascer, porque ele tinha prisão de ventre e estava irritado por causa dos dentinhos saindo, e aí um dia ele fez cocô com um pouquinho de sangue devido à prisão de ventre, e achei que fosse APLV [alergia à proteína do leite de vaca], porque a família do pai dele toda tem e eu tava com medo de dar no Be], e acaba deixando de ajudar o bebê de uma forma muito simples, e ele acaba pagando por isso, ficando com a gengivinha dolorida e coçando, enquanto a gente vai se preocupando em parar de comer laticínios para parar a 'alergia' dele. Não falo que pediatra entende tudo do bebê, porque cada bebê é um bebê, e assim como tem aqueles que sofrem horrores com dentes, existem aqueles que você só vê que tinha dente vindo quando ele te mete uma dentada no peito. Só que são médicos com prática para detectar sintomas que nós, mães sem estudo médico, não estamos preparadas para ver. Nós não temos aqueles trequinhos de examinar ouvido em casa, e muitas vezes achamos que a chatice do bebê é sono ou outro mimimi, enquanto ele tá com dor de ouvido.

A autora do post ainda diz que médico é para diagnosticar e tratar doenças. ERRADO! Médicos também trabalham com prevenção. Tanto é que pessoas que passam por doenças graves, como o câncer, mesmo depois do desaparecimento total do quadro, continuam se consultando para prevenir que a doença não volte. E, na boa, a mulher fala de atravessar a cidade para levar o filho ao médico como se fosse ridículo fazer isso. Desculpe, mas quantas vezes vamos até o outro lado da cidade por motivos muito menores, tipo comprar uma blusa que vimos perto da casa de um parente?

Ah, sim, ela fala no fim do post que não tá dizendo que os médicos são monstros e mimimi. Mas ela está menosprezando o trabalho deles SIM. OK, pode ser que desde a última vez que você pesou a criança no posto ela tenha ganhado peso... digamos que a mãe tenha ido ao posto pesar o filho no dia 1º de março. O bebê estava com, suponhamos, 6,5kg. Daí ela volta lá no dia 4 de abril, e o bebê ganhou 400g. OK, ótimo. Só que e se, durante este tempo, ele perdeu peso em relação ao que ele ganhou depois da última medição? E se ela achou que a falta de apetite nos últimos dias era apenas por causa do calor, e não notou que em uma semana ele perdeu 150g? São mais de vinte gramas perdidos por dia, quase metade do que ele ganhou em comparação à última vez que foi pesado. E isso acaba passando batido e, quando a mãe vai ver, evoluiu para uma estomatite, uma infecção qualquer. E poderia ser facilmente diagnosticada se o bebê tivesse sido pesado na consulta com o pediatra, que poderia notar alguma anormalidade. Muitas vezes, achamos que o bebê está 'molinho' porque tá muito quente, ou porque julgamos que ele se cansou demais brincando ou passeando. E é anemia, que muitas vezes pode ser perigosa.

Sim, muitas vezes nos preocupamos demais com coisa sem importância. Uma coisa que me atormentou durante meses foi o peso do Bernardo. Desde que ele nasceu, ele é um bebê comprido e magrinho. Come que nem um cavalo, mas não ganha grande peso. E minha mãe ficava martelando na minha cabeça, falando que não era normal ele não ganhar tanto peso, que ele tava muito abaixo do que deveria e por aí vai. E eu fiquei encanada. Aí, quando estourou uma febre do nada nele, fiquei ainda mais preocupada, achando que era dengue [minha mãe e meu irmão tiveram umas semanas antes, e eu ainda estava com manchas], e marquei consulta com uma pediatra amiga da avó dele. Lá, ele foi pesado e, ainda que ele estivesse um quilo abaixo do peso 'normal' para a idade dele, ela me explicou sobre a tabela de crescimento.


O negócio é: não tem que estar na linha verde os dados do bebê, mas seguir o curso da linha! A linha verde indica uma média de pesos por idade, mas uma criança que se mantém abaixo disso não é necessariamente uma criança doente. A linha de crescimento deve ACOMPANHAR a linha ideal.

A do Bernardo seria a seguinte:


Perdoem minha falta de destreza pra fazer a linha HAHAHAHAH eu ia fazer à mão mesmo, mas usei aquela ferramenta horrorosa do Paint da linha torta e ficou assim HAHAHAH

Enfim, tá normal! Só que, pelo que eu tinha lido na internet, tava tudo indicando que ele estava com um problema de tamanho. Mães com bebês na mesma situação estão sempre desesperadas achando que tem algo errado, e aí fica uma paranoia coletiva. Então, sim, prefiro conversar com um médico sobre isso!

Voltando aos médicos: assim como eu acredito que tem GOs que enganam grávidas para ganhar uma grana em cima delas, forçar cesárea só porque é conveniente para eles, acredito que tem pediatra com má vontade. Caso disso aconteceu no PS em que a minha mãe trabalha. Vagando no site do Reclame Aqui, achei uma denúncia quanto a um médico que trabalha lá, com quem o Bernardo até já passou. O cara foi grosseiro todas as vezes em que passei lá, e o Bernardo nunca tinha nada, mesmo que estivesse tossindo, com febre, sem comer. E aí, quando li o caso no link acima, me senti até um pouco mal por não ter ficado surpresa. Só de ler que tinha criança envolvida, sabia que o cara tinha algo a ver com isso. Todas as vezes em que passei com o Be lá, ficou claro que o cara preferia estar fazendo QUALQUER COISA a estar ali. Parecia querer se livrar o mais rápido possível dos pacientes. Uma coisa é você tentar encurtar contato com cliente quando é, sei lá, operador de telemarketing. Outra, é fazê-lo quando você é da área de saúde! É uma vida em jogo, cara, não dá pra ter má vontade.

Ah, sim, quanto ao que a moça comenta de médicos que simplesmente tacam leite artificial na criança: claro que tem quem vai te orientar a fazer o mais fácil. Mas tem pediatra que leva a sério o aleitamento materno, que incentiva a insistir, ensina técnicas para facilitar a amamentação. Se você não está satisfeita com a linha de pensamento do seu pediatra, simples: troque. A questão da amamentação, ainda que não pareça, é muito melhor no Brasil do que em muitos lugares. Nos EUA, a amamentação ainda é tabu, porque continua sendo vista como algo impróprio, sexualmente vulgar. Quando a atriz Angelina Jolie deu à luz o casal de gêmeos Knox e Vivienne, saiu na capa de uma revista amamentando. A foto gerou polêmica, dada com vulgar, por ela estar com o seio parcialmente descoberto... ainda que ali, pequena e delicada, se veja uma mãozinha de bebê. Aqui no Brasil, enquanto O atrativo feminino é a bunda, lá é o peito, e parece que os machões de plantão não estão tão a fim de deixar de olhar para um peito de forma sexualizada mesmo quando o peito deixa de ser. Menos da metade das mães cumpre os seis meses de amamentação, e menos de um quarto chega a amamentar até que o bebê complete um ano. E por lá a amamentação prolongada é dada como absurda.

Concordemos que é meio bizarro crianças maiores mamando. Acho que, até uns dois anos, é normal, ainda que seja um tanto 'feio' ver em público uma criança maior mamando. E, querendo ou não, o leite materno nessa idade já não é um componente extremamente importante na alimentação da criança. Acaba continuando mais por hábito do que necessidade. Na série 2 Broke Girls, tem uma cena sobre isso:


Quanto ao Bernardo, pretendo amamentá-lo, no mínimo, até um ano e meio, quando eu espero começar a fazer faculdade de novo. Daí não sei como será. Não quero forçar o desmame, mas não quero que se prolongue infinitamente, porque hábitos são terríveis de serem finalizados.

Retornemos aos pediatras de novo.

Nós temos mais ou menos uma ideia formada quanto ao que queremos para nossos filhos. Mas nem sempre temos um plano detalhado de como nos manter nessa linha. Tem mães que preferem começar a dar outros alimentos mais cedo, assim como tem quem espere religiosamente que o filho faça seis meses para começar com suquinhos e tal. Tem mães que optam por dormir com o bebê na cama, assim como tem quem já o coloque no carrinho ou no berço logo que vêm da maternidade. E todas essas escolhas acabam acarretando em episódios que provavelmente não prevemos quando tomamos essas decisões. Eu, por exemplo, tenho problemas com o sono do Be: do mês e meio até quase os cinco, ele dormiu a noite toda, da meia-noite às seis ou sete. Em janeiro, ele voltou a acordar de madrugada. Achando que era fase, nem liguei, Desde então, ele dormiu DUAS noites inteiras. Não é fase! Eu comecei a achar que meu leite não o estava sustentando, que ele tinha voltado a ter cólica, tentei até dar remédio para dor antes de ele dormir... nada resolveu, Ele continuou acordando a cada duas horas, às vezes de uma em uma. Tinha dias em que eu ficava INÚTIL.

Então procurei ajuda. O Be passava, desde o primeiro mês de vida, com uma pediatra que minha mãe conhece. Só que ela nunca ia fazer as consultas, muitas vezes faltando na clínica sem avisar. A última vez que consegui passar com ela foi em novembro. Em dezembro, ela foi fazer o plantão de uma médica que faltou onde minha mãe trabalha, e passei lá para ela dar uma olhada. Mas lá não tinha balança, nem como medir a altura do Be, e ela fez uma consulta bem sem graça. Em janeiro, no dia em que tinha consulta, fui até a clínica para descobrir que a mulher tinha resolvido não aparecer. E fui, até o final de fevereiro, remarcando semanalmente consultas, até que finalmente a médica avisou que não atenderia mais naquela clínica. Então me passaram para outra médica, e adivinha? Ela faltou no dia! Aí me remarcaram pro começo de abril, só que me avisaram a data errada. E perdi a consulta. Agora só dia 9 de maio... Aí, quando essa situação do sono começou a estourar minha paciência, acabei passando com a médica amiga da avó dele, que me iluminou quanto ao sono quebrado do Be: o costume de mamar. Ele não mama por fome de madrugada, mas para se certificar de que eu estou ali. E é necessário cortar essas mamadas para ele se acostumar a dormir várias horas direto de novo.

Eu tentei. Mas não rola. Toda noite, consigo pular umas duas mamadas, dando chupeta e colocando ele novamente de bruços para ele voltar a dormir. Com isso, o intervalo de duas horas entre uma mamada e outra aumentou para três horas e meia, quatro. Com sorte, ele dorme cinco seguidas. Mas eu não consigo negar a noite toda. Uma hora junta pena, impaciência e sono e eu acabo dando tetê, porque o choro dele começa a me quebrar. Mas pelo menos sei por que ele voltou a acordar. E agora está sendo minha escolha o que fazer, me baseando no que me foi orientado sobre a situação.

É isso que as mães precisam entender: médico não tem que mandar na criação dos nossos filhos, mas orientar. O que fazemos com essa orientação é responsabilidade nossa. Não estamos vendo nossos filhos do lado médico, e às vezes uma explicação quanto ao que acontece a eles pode ser de grande ajuda. Não é porque o pediatra mandou dar comida e tetê em horas marcadas que você tem que fazer isso. Quando ele der alguma dica, pergunte o porquê dela e decida, por si mesma, se aquilo condiz com seus instintos. Mãe ainda é humana e erra, então sempre ter um ponto de vista diferente do nosso é bom, desde que não imposto.

No texto ainda se diz que podemos descobrir as coisas sem consultar médico, mas concordemos: o que a internet tem de besteira não é brincadeira. Quando procurei sobre o que fazer quanto ao refluxo que o Bernardo tinha, achei quinquilhões de simpatias, mas nada que ajudasse de fato. Passei uma única vez com um médico, e ele me orientou a fazer outras coisas que poderiam ser ainda mais eficientes do que dar remédio para o Be todo santo dia. E adiantou. Agora ele só volta comida quando come demais. É uma maravilha.

Procurar um médico não é botar as decisões da vida da criança nas mãos dele. Ele não pode te mandar dar leite artificial, nem a esperar os seis meses de amamentação exclusiva antes de dar outras comidas. Ele pode te orientar, defender o ponto de vista dele, prevenir pequenos problemas de saúde que podem virar problemões se deixados para serem tratados só quando geram necessidade de correr ao médico. Mas, na hora de escolher quem vai acompanhar seu filho, precisa optar por um médico que siga a mesma linha de pensamento que você. Se você é a favor da criação com apego [um artigo legal tá aqui, e temos como garota-propaganda desse método a Angelina, já citada lá em cima] ou de babá/creche desde cedinho, de amamentar prolongadamente ou desmamar logo depois do tempo exclusivo, procure um médico que possa fazer indicações para que você siga no caminho da criação escolhida.

Lembre-se de que, antes de a criança ser paciente de um pediatra, ele é filho de uma mãe. E cabe a nós, antes de qualquer outra pessoa, decidir quanto aos nossos nanicos.

Um comentário:

  1. Tem mãe que realmente é mto louca... Elas colocam na cabeça que são suficientes pros filhos e se dane o resto do mundo...
    Elas pensam que podem decidir tudo, desde os detalhes do parto até amamentação... Daí qdo dá alguma coisa errado, ficam frustradíssimas, chorando as pitangas pelos cantos...
    Acho legal pra caramba esse apego pelas crias, mas é legal sim ir ao pediatra... Tem certas vitaminas que eles precisam tomar, e o pediatra receita na hora certa, orienta e tal...
    Essa questão do leite artificial, sim, é culpa de muito pediatra que não orienta sobre amamentação, sobre a quantidade de leite materno que o bebê precisa, etc etc...Mas é tb culpa de muita mãe preguiçosa, que não aguenta a dor dos primeiros dias, ou não querem amamentar a noite, então dizem que o leite não sustenta, ou que dá complemento pra criança dormir melhor...
    Eu gosto de ir ao pediatra, e as crianças não estão doentes, pq todas estão passando em consulta de rotina tb!!! Quem tá doente, vai pra emergência!!!
    Pelo SUS, não dá pra trocar de pediatra, infelizmente... Mas a maioria orienta amamentação exclusiva até, pelo menos, os 4 meses, o que já é alguma coisa né... =/
    Claro que eles deveriam saber quais mães trabalham, e precisam introduzir alimentos aos 4 meses, e as mães que podem se dar ao luxo de amamentar até os 6 meses, exclusivamente...
    Enfim, vai da mãe, de um jeito ou de outro... No fim, com ou sem pediatra, ela vai fazer do jeito dela mesmo...

    Su Orzzi

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