quarta-feira, 10 de abril de 2013

Direito a um pai


Um amigo meu disse, ainda quando eu estava grávida, uma coisa que ficou na minha cabeça: não é porque damos os ovos que fazemos o bolo, se fosse assim toda galinha seria cozinheira.

Eu quis, desde que desconfiei da gravidez, que o bebê que estava a caminho pudesse ter um modelo familiar relativamente comum, não algo mirabolante ou complexo. Eu pensei que pudesse formar uma família, apesar das peculiaridades da história toda. Nem muito pelo fato de eu ter me apaixonado pelo pai dele, mas porque acho que uma criança deveria ter ambos os pais presentes incondicionalmente, que não precisasse ter OU a mãe OU o pai.

Canceriana idiota e sonhadora que eu sou, esqueci que as coisas quase nunca são como queremos. Achei um poema meu nesses tempos em que eu já falava da decepção que eu começava a ter conforme conhecia melhor o pai do meu bebê. Era doloroso ter que descobrir por conta própria que alguém com quem eu dividiria a coisa mais importante da minha vida não era exatamente o cara gente boa por quem eu tinha me encantado. Aqui vai:


ADEUS, VERÃO


Levarei sua foto comigo
Como uma eterna lembrança no fundo dos olhos
Esconderei seu sorriso nos bolsos do casaco
Como nova camada de pele
Rasgarei os céus por um canto difuso e triste
Ainda que haja nele a alegria dócil de alma livre
E sempre terei nos lábios o sabor do deus hipnótico
Levarei comigo seus olhos, mãos, boca, sexo, êxtase, coração.
Cobrirei os olhos para não desejar
E desta vez pagarei apenas pelos MEUS pecados
Com suas mãos nas minhas frias
Deixarei você ir pela última vez
É o sol de verão que se despede todos os dias
E volta para queimar na manhã
Agora vai-se tarde no outono
E me deixa sonhar solta numa cama de folhas secas

[20/04/12]


Foi por aí que comecei a notar que eu teria sérios problemas com ele. Me dizem que eu não sei lidar com as pessoas, mas tem gente que não quer ser entendida, nem mesmo suportada. Eu fiz muito pelo pai do Bernardo durante a gravidez, até depois do parto, e nunca consegui um obrigado. Sempre que eu fazia algo, recebia um 'Eu não pedi para você fazer nada por mim', e quando deixava de fazer era tratada como grosseira, egoísta e por aí vai. Desde o começo ele deixou claro que não queria o bebê e tentou me convencer a abortar, mas deixei claro que teria o bebê com ou sem o apoio dele. Claro, ele veio com aquele discurso de macho responsável e perfeitinho, dizendo que se não era uma escolha pra mim ter ou não ter, para ele também não era. Ele disse que assumiria e ajudaria, ainda que não fizéssemos planos para ficarmos juntos.

Contudo, logo que comecei o pré-natal no HU da USP, ficou claro que ele não tinha grande interesse na minha gravidez. Sempre o chamava para ir a consultas com a GO e a exames, e ele sempre tinha uma desculpa pronta para não ir. Ele chegou a ir a uma US, que eu achei que serviria para ele se tocar um pouco de que seria pai, mas NADA. Não parecia que a vida dele estava para mudar. E sempre que eu dava um conselho ou qualquer coisa assim, ele agia como se eu o estivesse insultando, dizendo a ele o que fazer ou não. Quando pedi que ele parasse de se drogar, ele falou que eu não tinha o direito de julgar os limites dele, que ele sabia o que fazia ou deixava de fazer, e não quis entender que o que eu tentava dizer era que, quando o Be nascesse, as coisas não mudariam de uma hora para a outra. Que, se ele continuasse naquele ritmo, eu não teria a menor confiança de pedir ajuda a ele num fim de semana, porque saberia que ele estaria incapacitado para fazer qualquer coisa. E ele achando que seria capaz de mudar radicalmente quando quisesse...

Ouvi horrores durante a gravidez, desde que a gravidez era problema meu, que ele não tinha nada a ver com isso, que exames eram só imagens que não importavam para ele, e até crise nervosa ele me fez passar. E não foi uma vez apenas. Passei junho inteiro mal, chorava sempre que me via sozinha, tinha pavor de meu filho não ter um pai presente, de aquele nervoso fazer mal a ele. Fui melhorar só quando saí de SP, que fiquei longe dele. Ficamos quase um mês sem nos falarmos, até que eu o informei de que poderia entrar em trabalho de parto [com 33 semanas exatas, comecei a perder o tampão, mas não deu EM NADA. Tampão trollador.], e ele levou mais uma boa semana, dez dias para resolver vir para Praia Grande pra esperar o nascimento do Be. E eu caminhava, fazia exercício, tomei até chá de canela e cravo pra ver se o Bernardo vinha logo.

Aí chegou o dia dos pais e o paizinho querido dele aprontou. Nem quero entrar em detalhes, porque já contei muito sobre isso, mas ele me fez entrar num quadro nervoso fortíssimo, minha pressão subiu e não descia por nada. Tive o Bernardo numa cesárea de emergência por causa da pré-eclâmpsia. E o pai dele não assistiu o parto, porque ele não teve a menor cara de vir para isso. Eu o informara na véspera de que, se o Be não viesse naquele dia, viria no seguinte, e mesmo assim ele não se moveu para ver o nascimento do filho.

Eu queria ter aqui a foto de quando ele pegou o filho pela primeira vez, que foi o tapa mais bem dado pela vida na cara de alguém. Ele, que tinha querido tanto que eu não tivesse aquele bebê, se encantou no instante em que o viu. Sem falar que o Bernardo era a cara dele quando nasceu [e ainda é, fico puta por gestar nove meses e nascer igual ao pai HEHE], e ainda assim precisei submetê-lo a um exame de DNA pra provar que era filho do dito cujo. Ainda que com a prova em mãos, ele não se adiantou a fazer muito pelo filho. Quem me ajuda muito é a avó paterna do Be, que me paga pensão e o plano de saúde do Bernardo. Eu agradeço muito pelo que ela faz pelo Be, porque eu não sei como seria sem o apoio dela. Tenho certeza de que, se ela não tivesse assumido um compromisso que nem era dela no começo, ele também não teria feito nada. E aí quem estaria se virando para garantir que não faltaria nada pro bebê seria eu.

Quando discutimos sobre o fato de ele ser um pai completamente relapso, ele fala que eu não posso esperar que ele seja o pai que eu queria que ele fosse, mas tô longe de esperar isso! Eu queria um pai pro meu filho que estivesse disponível o tempo todo, que priorizasse o Bernardo, que ajudasse efetivamente, não que se escondesse atrás dos outros para justificar sua ausência. Ele diz que não fica mais perto do filho porque não quer lidar comigo, como se eu ficasse muito feliz de ficar perto de alguém que pisa em mim em toda oportunidade possível. Ele esmigalhou cada pedacinho do que já senti por ele de uma forma irreversível. Foi como lançar um copo ao chão e ainda pisar de botas pros cacos não poderem ser mais encaixados. O que eu falo de ele melhorar como pai é se esforçar para não ser tão inútil como anda sendo. Uma coisa é falhar por fazer seu melhor e ainda assim não conseguir ser o suficiente. Outra coisa é ser inútil porque não quer melhorar.

Como alguém que passa, sei lá, três horas a cada vinte dias com o filho pode querer dizer que está fazendo seu melhor? Como alguém que gasta sem pensar duas vezes toda a grana da semana em cigarro e mimimis, e tem a cara de dizer que não visitou o filho no fim de semana por falta de grana?

Ele não entende que não é questão de que pai eu queria que ele fosse, mas de que pai o Bernardo merece ter. Ele diz que vou colocar meu filho contra ele, mas como posso dizer algo bom do pai dele se ele não quer fazer nada de bom? Eu só não tenho do que reclamar quando ele está, de fato, com o Bernardo: é paciente, amoroso. Mas o problema é ele ficar com o filho. Acho que, somando todo o tempo que ele passou com o Bernardo desde que ele nasceu, não deve dar uma semana. Uma semana na vida de um bebê de quase oito meses! Fazendo uma conta por cima, isso deve dar quanto, 4% da vida do filho com ele? Que paizão, né?

Nós tínhamos conversado, há quatro meses, sobre fazer transição: ele começaria a passar dias inteiros com o Be, fazendo tudo, enquanto eu ficaria apenas nos 'bastidores' para dar mamar quando fosse inevitável ou acalmar o Be quando ele ficasse muito estressado. ADIVINHA? Cada vez é uma desculpa nova, e até agora não começou a ajudar nisso. Nem mesmo depois de eu mandar um texto sobre a importância do pai na fase em que o bebê começa a se desprender da mãe. E ele ainda acha que eu vou simplesmente largar o bebê com ele, sem que ele saiba nem dar banho de uma forma segura! Mereço, né? Ele não quer fazer a parte dele e espera que eu simplesmente confie nele a ponto de deixar o Be com ele sem supervisão. Ele não confia em mim POR ESCOLHA DELE, COMO ELE MESMO DIZ, mesmo depois de tudo o que fiz para que a gente desse certo como amigos pelo menos, e ele acha que tenho que confiar cegamente nele. Não, colega, não vai ser assim!

Eu não quero que meu filho sinta a falta de alguém que só quer ser pai quando tem tempo livre. E não quero ter mais que lidar com alguém que, na frente dos amigos e da família, se faz do bonzinho, de superpai, e a sós age como se eu tivesse o objetivo de arruinar a vida dele. Não posso obrigá-lo a gostar de mim, mas posso exigir respeito. E enquanto ele não quiser ter uma relação pacífica e parar de ataques só porque não aceita opiniões e conselhos [que ele diz ser eu tentando ensiná-lo a ser pai [o que, de certo modo, não seria uma má ideia, já que ele não quer ser por si mesmo]], não quero proximidade. Eu tenho direito a não ser tratada que nem um cachorro, tenho direito a não ter que ouvir merda sempre que tento interagir, não só informar ou fingir uma boa relação.

Não acho que seja demais pedir que, se não pode fazer por ser pai do menino, pelo menos faça para honrar a palavra de que ajudaria. E, se não pode ser uma pessoa melhor e mais prestativa por si mesmo, que seja pelo filho. Modéstia zero, meu filho é uma criança linda, doce, espertíssima, e eu acho que ele merece um pai que se importe de verdade, que o tenha como prioridade. Não acho justo com ele ser tratado apenas como um bichinho de estimação que exibimos em passeios no parque.

Enquanto isso, vou sendo mãe e pai, né.

3 comentários:

  1. ô coisinha complicada ter pais responsáveis nesse país, viu!?
    Minha posição é que as grandes culpadas, na maioria dos casos, são as mães desses pais relapsos, que foram criados achando que não tem responsabilidade nenhuma e que se engravidassem alguém, a"idiota" que se virasse. É muito triste crescer sem pai, ou com um pai de merda desses...eu passei por isso, e o maior lesado foi o trouxa com quem divido metade da minha genética, pq hoje o que ele tem de mim é desprezo. Nem o nome dele eu dei ao Guga, pq ele teve 15 anos pra fazer papel de pai,não quis, então não merece fazer parte da minha família, nem da vida do meu filho.
    É triste saber que o Be tem esse tipo de pai, mas é reconfortante ver que ele tem uma mãe que vale muito mais!
    Uma coisa que vou fazer pelo meu filho, é ensiná-lo a ser homem, arcar com as responsabilidades e ser bom pai...se ele for um homem ou pai de bosta, será por forças sobrenaturais, pq no que depender de mim, meus netos não crescerão precisando que as mães sejam o homem e a mulher da casa.
    Belo texto Lau, e lindo peoma!

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  2. Lau, nem sei o que dizer, pq o pai do meu filho (Bernardo tb) é a mesma coisa...
    Fico p... da vida qdo o vejo, de relance, com tenis caros, mochila e boné caros, roupa da boa, tudo do melhor pra ele, e pouco se importa se o filho tem o mesmo...
    Ele compra umas peças de roupa uma vez por ano, dá uma ajuda financeira duas ou três vezes por ano, e pensa que tá bom!!!
    Já pedi grana pra pagar o transporte escolar do menino, mas acho que ele prefere que o coitado vá andando pra escola, que fica a mais de 1 km de casa...
    Enquanto isso, vc, eu, e muitas outras somos pais e mães, ou melhor, PÃES né... KKKKKKK (rir pra não chorar)

    Bjussss

    Susana

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  3. Olá mamãe,lindo seu blog...
    estou participando dele,ok?
    Conte-nos sempre as novidades,te espero no meu tmb,segue link!
    Abração e um ótimo final de semana.
    Abraços com carinho,
    Kerline Silva

    http://papaimamaesuasementinha.blogspot.com.br/

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