quarta-feira, 27 de março de 2013

Aborto, um infanticídio mascarado de direito

Eu fazia até o primeiro semestre do ano passado faculdade de Letras na USP, que é um curso que em sua esmagadora maioria é composto por mulheres e, com isso, há um forte movimento feminista ali dentro. Na primeira vez em que fui a algum tipo de confraternização lá, fui arrastada por uma moça que eu conhecia para uma reunião de uma chapa [supostamente apartidária] em que queriam discutir o que seria feito para o dia das mulheres. Nisso, eu já tive um pressentimento de que algo maior estava por vir...

Logo começaram a aparecer cartazes falando dos horrores dos abortos clandestinos. Falando do tanto de mulheres que morriam ou tinham graves sequelas de abortos em clínicas clandestinas, sem a estrutura necessária para realizar o procedimento com segurança, vindo com aquele mimimi de abortistas de que o corpo é da mulher e ela faz o que ela quiser.

Mil perdões às feministas, até a quem não é militante ativa do movimento, mas essa é a maior palhaçada do Universo, um argumento totalmente ridículo. Então se eu quiser usar minhas mãos para estrangular alguém eu posso, já que o corpo é meu e eu faço o que eu quiser? Se eu tiver AIDS eu posso dar pra qualquer um sem proteção e contaminá-lo, só porque o corpo doente é meu e eu faço o que eu quiser?

Aí vão falar que são coisas diferentes, porque eu estaria colocando em risco a vida de outros. E com aborto, minha amiga, você não apenas coloca uma vida em risco, mas acaba com ela. Se vai falar que é a mulher que vai ter que aguentar uma gravidez, ficar pesada, inchada, com enjoo, tudo o que eu digo é que nós somos feitas para isso. Tratam a gravidez como se fosse meses com um parasita ameaçando o nosso bem-estar, mas nada mais é que um processo natural para o qual o corpo da mulher é projetado.

Não falo de meninas de onze, doze anos que engravidam [isso para falar de casos menos revoltantes, porque devemos lembrar que a mãe mais nova do mundo tinha apenas cinco anos quando deu à luz], porque estas não têm o corpo completamente desenvolvido, muito menos a mentalidade. Elas podem até achar que têm, querer falar como mulheres adultas, seduzir rapazes ou o que for, mas seu desenvolvimento biológico é inquestionável. Muitas dessas meninas terão que passar por cesáreas por simplesmente não terem ainda a bacia larga o suficiente para permitir a passagem do bebê, assim como provavelmente sofrerão abortos espontâneos porque seu corpo não está preparado para todas as mudanças que uma gestação causa nele.

Eu estou falando de garotas, mulheres ou como quiserem chamar, que fazem sexo cientes de que aquele ato pode acabar em gravidez.

Na comunidade de que mais participo no BabyCenter, a Mães Antes dos 20, a maioria engravidou por descuido, ou por falha do método contraceptivo escolhido. Não são muitas que planejaram a gravidez, e as que o fizeram são 'casadas' e têm seus namorados/maridos para as sustentar ou contam com a ajuda dos pais [o que eu ainda acho um absurdo, porque elas acabam jogando nas costas dos outros a tarefa do sustento do bebê, sendo a maioria ainda menor de dezesseis, sem trabalho, com anos de escola ainda pela frente e sonhando que aquele namorado é pra vida toda]. São poucas, no entanto, que seguiram a indicação mais funcional para evitar a concepção, de que é combinar pelo menos dois métodos contraceptivos.

Camisinha estoura, esquecemos o anticoncepcional um dia ou outro, atrasamos a injeção, demoramos para tomar a pílula do dia seguinte... e todas nós sabemos disso. E ainda assim, nós queremos contar que usar camisinha só vai sempre nos salvar, ou que é só tomar o AC certinho que nada vai acontecer. Como tudo no mundo, esses métodos possuem falhas. As pessoas sempre acham que prevenção é apenas com o uso de preservativo, mas temos diversos outros métodos. Temos também diafragma, DIU...

Com tanta coisa para evitar a gravidez, a noção de descuido também se tornou mais ampla. Não vivemos mais na Idade Média ou sei lá quando que a camisinha era feita de bexiga ou que parte seja da ovelha, e quando a mulher recorria a chás abortivos e tudo o mais. Além desses métodos naturebas, temos mais uma pilha para evitar a gravidez. Se ainda assim quiser mimimizar sobre os riscos, simples: não transe. É o método mais eficaz contra gravidez. Ou use meios alternativos de prazer, como anal, oral, espanhola, vibrador, masturbação...

Conheço muita gente que fala que, se engravidasse agora, abortaria sem pensar duas vezes, porque não se vê como mãe agora, porque não tem estrutura, mimimi... mas aí, se aparece o cara mais gostoso do mundo, mesmo que não se veja em um relacionamento sério, aceita a vida a dois exclusiva sem pensar duas vezes; não se vê rica, mas também não fala praquele tio rico que não quer receber aquela grana preta quando ele morrer. Abortar por ter engravidado por descuido é não querer lidar com o resultado da própria irresponsabilidade. Nada me faz mudar de ideia quanto a isso. Eu não me via mãe de jeito nenhum quando engravidei, mas como foi descuido meu não ter usado preservativo e nem ter recorrido a nenhum outro método contraceptivo, eu assumi as consequências. Poucas garotas de dezenove anos querem abrir mão da sua liberdade, das festas, dos shots de vodca com os amigos, as noites viradas em rolês... e eu não queria também, mas no momento em que eu fiquei grávida, além de mulher e jovem, me tornei mãe e responsável por uma vida que eu gerei.

Abortar, como um amigo meu disse uma vez, é que nem botar cachorro pra dentro de casa e depois mandar embora porque dá muito trabalho cuidar, porque não podemos mais passar dias fora, temos que alimentar, limpar o cocô, dar atenção, tudo. É fácil assumir riscos de criar laços com outra vida, o difícil é ter a cara de enfrentar todas as responsabilidades que isso traz. 

Claro, há situações como a em que o bebê gerado não se forma devidamente e não terá chance de vida fora do útero. Nesse caso, acho o aborto justificável. Não sabemos se dentro do corpo da mãe ele já vai ter algum tipo de sofrimento, mas algumas anomalias fazem com que o bebê sofra terrivelmente em seu pouco tempo de vida. E então, imagina a mãe ter que dar à luz uma criança que em seguida ela vai ver morrer... acho que esse tipo de coisa não vale a pena para ninguém. Se eu tivesse descoberto que o Bernardo não sobreviveria depois do parto, teria abortado. Eu não consigo imaginar a dor de gestar um serzinho durante nove meses, amá-lo, sonhar com o seu rostinho, para ter que recebê-lo com um adeus.

Em casos de estupro, há uma questão muito complexa, que é lidar com aquela vida gerada de uma forma tão traumatizante. Tem mães que projetam na criança o ódio/medo/repulsa que sente pelo estuprador, ainda que, de forma alguma, o feto tenha alguma culpa no ocorrido. É claro que a mãe também não tem -mas como pode ser a vida dessa criança menos valiosa? Eu entendo que a maioria não teria a capacidade psicológica de lidar com esse filho gerado por uma violação tão grave, mas não consigo ver assassinar uma criança como uma solução.

As pessoas falam da legalização do aborto como se fosse a resposta pra tudo. Como se toda clínica clandestina fosse virar um spa cinco estrelas, em que a mulher aborta enquanto toma um dry martini e vê o último filme da Jennifer Lopez. GENTE, SE LIGA! Se não querem investir em educação sexual, acham mesmo que o governo vai usar o dinheiro da Copa para que as mulheres possam abortar com segurança? Eu até procurei, mas não consegui achar um artigo que li há umas semanas sobre relatos de médicos e enfermeiras que testemunharam ou realizaram abortos nos Estados Unidos, e é de partir o coração. Estou colocando dois relatos curtos, mas que são terrivelmente chocantes. Por isso mesmo optei por colocar apenas o link e não copiar, porque quem preferir não ler tem essa opção.

http://www.naoqueroabortar.com.br/?p=360

Já leu sobre os tipos de aborto que podem ser feitos? Se não, leia abaixo [colei desta vez porque não é tão terrível quanto os relatos, e sendo um texto maior dá pra escolher o que pular]:

Por envenenamento salino
Extrai-se o líquido amniótico dentro da bolsa que protege o bebê. Introduz-se uma longa agulha através do abdômen da mãe, até a bolsa amniótica e injeta-se em seu lugar uma solução salina concentrada. O bebê ingere esta solução que lhe causará a morte em 12 horas por envenenamento, desidratação, hemorragia do cérebro e de outros órgãos.
Esta solução salina produz queimaduras graves na pela do bebê. Algumas horas mais tarde, a mãe começa "o parto" e da a luz a um bebê morto ou moribundo, muitas vezes em movimento.
Este método é utilizado depois da 16ª semana de gestação.


Por Sucção
Insere-se no útero um tubo oco que tem uma ponta afiada. Uma forte sucção (28 vezes mais forte que a de um aspirador doméstico) despedaça o corpo do bebê que está se desenvolvendo, assim como a placenta e absorve "o produto da gravidez" (ou seja, o bebê), depositando-o depois em um balde. O abortista introduz logo uma pinça para extrair o crânio, que costuma não sair pelo tubo de sucção. Algumas vezes as partes mais pequenas do corpo do bebê podem ser identificadas. Quase 95% dos abortos nos países desenvolvidos são realizados desta forma.

Por Dilatação e Curetagem
Neste método é utilizado uma cureta ou faca proveniente de uma colher afiada na ponta com a qual vai-se cortando o bebê em pedaços com o fim de facilitar sua extração pelo colo da matriz. Durante o segundo e terceiro trimestre da gestação o bebê é já grande demais para ser extraído por sucção; então utiliza-se o método chamado dilatação e curetagem.
A cureta é empregada para desmembrar o bebê, tirando-se logo em pedaços com ajuda do fórceps. Este método está se tornando o mais usual.

Por "D & X" às 32 semanas
Este é o método mais espantoso de todos, também é conhecido como nascimento parcial. Costuma ser feito quando o bebê se encontra já muito próximo de seu nascimento. Depois de ter dilatado o colo uterino durante três dias e guiando-se por ecografia, o abortista introduz algumas pinças e agarra com elas uma perninha, depois a outra, seguida do corpo, até chegar aos ombros e braços do bebê. Assim extrai-se parcialmente o corpo do bebê, como se este fosse nascer, salvo que deixa-se a cabeça dentro do útero. Como a cabeça é grande demais para ser extraída intacta; o abortista, enterra algumas tesouras na base do crânio do bebê que está vivo, e as abre para ampliar o orifício. Então insere um catéter e extrai o cérebro mediante sucção.
Este procedimento faz com que o bebê morra e que sua cabeça se desabe. Em seguida extrai-se a criatura e lhe é cortada a placenta.

Por Operação Cesárea
Este método é exatamente igual a uma operação cesárea até que se corte o cordão umbilical, salvo que em vez de cuidar da criança extraída, deixa-se que ela morra. A cesárea não tem o objetivo de salvar o bebê mas de matá-lo.

Mediante Prostaglandinas
Esta droga provoca um parto prematuro durante qualquer etapa da gravidez. É usado para levar a cabo o aborto à metade da gravidez e nas últimas etapas deste. Sua principal "complicação" é que o bebê às vezes sai vivo. Também pode causar graves danos à mãe. Recentemente as prostaglandinas foram usadas com a RU- 486 para aumentar a "eficácia" destas.

Pílula RU-486
Trata-se de uma pílula abortiva empregada conjuntamente com uma prostaglandina, que é eficiente se for empregada entre a primeira e a terceira semana depois de faltar a primeira menstruação da mãe. Por este motivo é conhecida como a "pílula do dia seguinte". Age matando de fome o diminuto bebê, privando do de um elemento vital, o hormônio progesterona. O aborto é produzido depois de vários dias de dolorosas contrações.


O vídeo abaixo é chocante e, ao mesmo, tempo, incrível. Essa moça foi abortada e sobreviveu, por mero acaso. A história dela é... fantástica.



Viu? Tem a segunda parte.



Mais um texto legal, que eu não vou copiar por ser enoooooooorme, é sobre a síndrome pós-aborto [que, claro, nunca é citada pelos abortistas]:

http://www.providafamilia.org.br/doc.php?doc=doc69327

Eu sou a favor da legalização do aborto, mas não da prática. Acho que a mulher tem que poder abortar sem ser tratada como criminosa, mas eu não consigo ver o aborto como justificável fora de questões de risco, seja em relação à vida da mãe ou do bebê. 

Se não quer aquela criança, a mãe tem a opção de deixar a criança para adoção. Recém-nascidos valem ouro em qualquer lugar no mundo. Não é ser criado pela mãe biológica que vai dar uma chance na vida a essa criança, mas um lar amoroso, independente do tipo de relação familiar existente nele.

Quem me conhece sabe a história do meu sobrinho. O Miguel tá com um ano e meio, e é a coisa mais linda do mundo [mentira, é a segunda, porque o Be ainda é mais HEHEHEHEH]. E ele não tem nem pai, nem mãe. Foi abandonado por ambos. O pai nem chegou a conhecê-lo, e minha irmã não o vê desde janeiro do ano passado. Ele não foi desejado, e isso não o tirou de uma vida feliz. Ele é lindo, super fofo, alegre, um encanto. E ama o primo ♥



Temos que colocar na cabeça que legalizar o procedimento não vai tornar as clínicas de aborto lindas, perfeitas e completamente seguras. E, mesmo que se tornem, só serão matadouros de qualidade. O que deveria ser feito é investir em educação sexual, incentivar e informar sobre os métodos contraceptivos, o direito da mulher vítima de estupro a atendimento hospitalar e à pílula do dia seguinte, e não tratá-la como culpada quando é violentada. Melhorar as clínicas não vai impedir que milhares de vidas sejam interrompidas todos os anos. E precisamos valorizar o sistema de adoção, seja direto ou por meio de terceiros.

Um feto tem coração com poucos dias de concebido. Um coração impedido é um coração assassinado.

4 comentários:

  1. Concordo com vc em muitos pontos.
    Investir em educação sexual, controle de natalidade e prevenção é a verdadeira solução.
    Só discordo na parte do estupro... eu sou totalmente a favor neste caso.

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  2. É que no caso de estupro tem uma complicação ainda maior na questão psicológica. Eu acho que, nisso, dependeria do caso. O problema é que, se a mulher, ao invés de ser ridicularizada por ser estuprada, recebesse medicação anticonceptiva e um bom tratamento, nem precisaria se discutir aborto nesse caso, mas como continuam achando que mulher estuprada é que tá errada... =/

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  3. Tb sou a favor da legalizaçao do aborto, até porque mesmo em países (como o Reino Unido) onde o aborto é legalizado, a maioria das mulheres pensa 1000x antes de realizar um, e mesmo assim muitas se arrependem. Digo que sou a favor da legalizaçao não pelo ato em si, mas pelo fato de que muitas mulheres que vivem em países onde o aborto é crime, além de matarem seus bebês correm sérios riscos qdo se submetem à abortos nessas clínicas que são piores do que matadouros de animais, além do alto preço.

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  4. muito bom seu post, até me emocionei, não sabia que existia tantos metodos para poder abortar. Como achei incrivel a historia da moça que sobreviveu a um aborto.

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