segunda-feira, 25 de março de 2013

Filho não é devedor!

Quem nunca ouviu um 'Você vai fazer porque eu sou sua mãe!' provavelmente foi criado na selva e se chama Tarzan, porque essa é uma das frases mais clássicas da infância [muitas vezes, da adolescência também, e até da vida adulta]. Nós somos criados sob a sombra da hierarquia familiar, com aquela ideia de 'respeite os mais velhos' e tudo o mais...

Mas até onde isso aí é justificável?

Só porque uma pessoa é mãe é que ela é mais certa do que quem não é? Só porque a pessoa decidiu ter um filho é que essa criança lhe deve servidão eterna? Então crianças abandonadas, se um dia se deparam com a mãe biológica, apesar de tudo, lhe deve um respeito incondicional? Desculpa a quem discorda, mas eu não acho isso nada certo!

Primeiro que ser mãe vai muito além de dar sua carga genética, de gestar. Senão aquelas mulheres que abandonam várias crianças durante a vida seriam mães fantásticas. Quem me conhece sabe da história da minha irmã. Ela é quase dez anos mais velha que eu, e tem dois filhos, uma menina de nove anos, que atualmente mora no interior de São Paulo, e um menino de um ano e meio, que mora com a gente. Ela basicamente os teve para segurar namorado e, como ela me disse mais de uma vez, eram crianças malditas porque vieram de pais pobres [!!!], e ela não fez nem questão de lutar por essas crianças. O Miguel, que tá aqui com a gente, ela não vê desde janeiro do ano passado. Nem ligou para saber dele. E aí, só por ela ser aquela que o gerou, ele deveria alguma coisa agora?

Segundo, se é nossa decisão termos um filho, por que ele deveria ter uma dívida conosco por isso? Quando fazemos algo bom por alguém, só podemos cobrar gratidão, não servidão ou o que for. O que fazem por nós nada mais é que uma reação ao que fazemos pelos outros: se nossos pais pagam nossas contas, nós temos de ser gratos por isso, evitar gastos desnecessários que nem nossos serão. Se temos nosso quarto, é pelo menos de bom senso preservarmos aquele espaço. Se alguém divide o almoço com a gente quando esquecemos o nosso em casa, é justo que ofereçamos nosso chocolate no dia seguinte.

Só que assim: isso tudo parte do sentimento de gratidão, não do simples fato de terem feito algo por nós. Senão, fazer de má vontade seria basicamente a mesma coisa que se esforçar para fazer o melhor por alguém. Fazer só para jogar na cara depois não conta como boa intenção. É que nem eu vi uma vez na gloriosa rua Augusta, em que uma menina chorava bêbada na frente do Vitrine, e um moleque com quem ela ficava pouco antes, jogou uma nota de dez na cara dela e disse: 'Toma aqui, sua p*ta, pra você voltar pra casa. Não vai agradecer? VAGAB*NDA!' e começou a falar um monte pra ela. TIPO OI. Ela deveria agradecer a ajuda do cidadão nisso? Eu acho que não!

Outra coisa: respeito não se compra, se conquista! É muito fácil ignorar quando o filho tem problema, calando a boca dele mandando pra terapia e dando presentes caros, enquanto você fica fora o dia todo trampando pra arcar com essas coisas. Difícil é você abrir mão desses luxos desnecessários e vir pra casa mais cedo pra conversar, passar um tempo com a criança, ser MÃE.

Ter o Bernardo foi decisão minha. Ele não me deve nada por isso. Ser mãe e ele filho não me torna alguém superior a ele. O respeito que eu cobro dele é o mesmo que ele tem que cobrar de mim. Se eu quero que ele faça algo, eu tenho que fazer também. Se eu quero que meu filho seja bom comigo, eu tenho que ser com ele. Eu quero que ele participe do nosso lar não passiva, mas ativamente. Se eu for pintar o quarto, quero que ele escolha a cor comigo. Se ele não gostar da sua escola, iremos juntos procurar uma nova. Quando ele for cortar o cabelo, vai ser num acordo nosso. E, assim como terei obrigações, ele terá as dele, mas não por me dever algo. Mas porque temos que ser iguais, e isso remete a ter os mesmos direitos e obrigações.

Meu filho é um presente, não um fardo! Para que tratá-lo como tal? Assim como ele precisa de mim agora, eu vou precisar dele um dia, e para isso ele vai levar consigo tudo o que eu fiz para ele, e espero que seja a memória de uma mãe, não de uma mera provedora.

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